A pesquisa científica que converte dados amostrais em resultados aplicados para a recuperação e conservação da biodiversidade enfrenta desafios tanto metodológicos quanto práticos. Tais desafios se aplicam especialmente para o grupo de abelhas, um grupo megadiverso incluindo desde abelhas solitárias, primitivamente sociais até altamente eussociais; que nidificam nos mais diversos estratos, desde túneis escavados no solo até cavidades naturais em estratos arbóreos; com espécies especialistas ou generalistas na utilização de recursos alimentares, florais, coleta de óleo ou de perfumes. Para esse grupo, destacam-se três desafios que a nossa pesquisa pretende abordar:
- Como reverter o declínio populacional destes polinizadores?
- Como superar as dificuldades de amostragens em ambientes florestais, especialmente em dossel?
- Como engajar as comunidades no reconhecimento e participação nas ações de recuperação e conservação das abelhas?
Para melhorar tal estado de conhecimento, este projeto é dividido em três eixos principais.
O primeiro eixo, prático, visa o manejo genético de populações da abelha social ameaçada de extinção, Melipona capixaba, aplicando genômica populacional baseado em genomas de baixa cobertura (lcWGS). O segundo eixo, metodológico, visa desenvolver e aplicar novas abordagens e tecnologia de monitoramento populacional da abelha solitária coletora de óleo Epicharis pygialis empregando drones para obtenção de imagens de alta resolução e utilizando visão computacional com técnicas de Inteligência Artificial de aprendizado profundo (deep learning), em dossel de áreas florestadas da Mata Atlântica. O terceiro eixo, de inovação, está voltado para a aplicação dos conhecimentos científicos no desenvolvimento de ferramentas de inovação para o uso em sala de aula e em ações de edu-comunicação ambiental sobre a conservação de abelhas.
Propõe-se então:
1. Realizar estudo genômico e monitorar a dinâmica populacional da espécie Melipona capixaba em núcleos de reprodução geneticamente assistida e manejo replicativo em populações de conservação in situ;
2.Detectar e monitorar o florescimento de plantas fornecedoras de óleo utilizadas por espécies de Epicharis, a partir de séries temporais de imagens de drone de alta resolução e aprendizagem profunda;
3.Inventariar populações da espécie Epicharis pygialis a partir de monitoramento em dossel e coleta com auxílio de drone;
4. Desenvolvimento de um jogo educacional 2D sobre abelhas; e
5. Incentivar a inovação e desenvolvimento de ferramentas educacionais e tecnológicas voltadas à conservação de abelhas nativas.
O projeto teve início em setembro de 2025 e terá duração de 36 meses. Ao final, esperamos entender a dinâmica populacional e como a diversidade genética sofre variações em perda ou aumento, como consequência do manejo replicativo, fornecendo assim um modelo aplicável à recuperação de espécies em declínio populacional. Desenvolveremos novos métodos de monitoramento populacional e obtenção de dados ecológicos baseados em visão Computacional e Inteligência Artificial aplicadas a imagens de dossel obtidas por drones para inventariar populações de abelhas. E, finalmente, visamos engajar as comunidades no reconhecimento e participação de ações de recuperação e conservação das espécies de abelhas alvo do Plano de Ação para a Conservação da Biodiversidade Terrestre na bacia do rio Doce.
O projeto tem o apoio financeiro da Fundação Renova através do projeto Biodiversidade Rio Doce do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio)