Em 1864, o Brasil entrou no maior conflito armado e um dos mais sangrentos da América do Sul: a Guerra do Paraguai. Em meio a esse cenário, os Kadiwéu, conhecidos como guerreiros e cavaleiros do Pantanal, foram recrutados pelo monarca Dom Pedro II para lutarem ao lado do exército brasileiro da época.
O povo Kadiwéu sempre foi conhecido por sua habilidade na montaria e pelo conhecimento estratégico das florestas. “Indígenas cavaleiros”, com vastos rebanhos de cavalos, dominaram as planícies do Pantanal e do Chaco muito antes da guerra começar.
Na guerra, os Kadiwéu atuaram como tropas auxiliares: conheciam o território, eram rápidos e imbatíveis na montaria. Sem eles, as tropas não avançariam pelo Pantanal, segundo os próprios comandantes imperiais da época.
Lutar com o Brasil na Guerra do Paraguai também fez com que os antepassados dos Kadiwéu, conhecidos como Mbayá-Guaikurus, quase desaparecessem. Em honra à sua luta, a recompensa pelo apoio foi a demarcação de 538 mil hectares de terra que hoje formam a Terra Indígena Kadiwéu, em Porto Murtinho (MS). Este foi um dos poucos casos em que a luta indígena foi, pelo menos por um momento, reconhecida pelo Estado brasileiro.
Mais que aliados de guerra, os Kadiwéu são exemplos de resistência e memória viva da luta indígena no Brasil. Diversos elementos dessa cultura originária pantaneira relembram os antepassados e celebram a conquista do território, como a própria montaria, a dança e o grafismo. Hoje, continuam a proteger suas terras com sabedoria, arte e força.



Texto: Alicce Rodrigues; Fotos: Alicce Rodrigues e Cassandra Cury